É isto

"Eu vou aonde me leva o meu pensamento. Talvez chegue à paz do meu coração"

12 janeiro 2010

Saudades

Saudades que saem da cabeça, percorrem todo o corpo, transformando-se em tremor, suor e rubor. Se fosse só assim estávamos bem. Mas não. Elas não se contentam com tais manifestações. Têm ainda a ousadia de se dirigir ao Coração, tal qual lanças e flechas em cenário de guerra, como se o Coração não fosse mais que um adversário, alvo a abater.
Uma vez chegadas ao coração, cercam-no, esmagam-no ao ponto de aumentar a sua frequência, seus batimentos na tentativa desenfreada de sobrevivência. Ele sobrevive, mas o sangue por ele bombeado não volta mais a ser o mesmo. O oxigénio que outrora corria veias e artérias desaparece, sendo substituído pela saudade, dor e desilusão. Três elementos que sufocam e intoxicam todo o ambiente saudável, noutros tempos respirável... E intoxicado o corpo resiste, mas deixa de ser o mesmo. Passa a ser fantasma, autómato, obedecendo às regras sociais e de convivência. Acordando, adormecendo, comendo mas não vivendo. O sorriso aberto fecha-se, o brilho no olhar desvanece-se, a força foge e os movimentos dissipam-se.
CUIDADO - as saudades intoxicam

10 fevereiro 2008

Elogio ao amor


Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha.Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.
Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso

16 dezembro 2007

Quem conseguir esquecer
Que veio cá para morrer
Pode guardar ambições
Pode rir pode viver
Se não pensar em morrer
Pode viver de ilusões

Quem conseguir esquecer
Que veio cá para morrer
É mais feliz do que eu
Faça eu o que fizer
Não posso deixar de ver~
Morrer tudo o que nasceu

Amália Rogrigues
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade
Que todos os ais sao meus
Que toda minha a saudade
Foi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meu coracao
Vive de vida perdida
Quem lhe daria o condao
Que estranha forma de vida
Coracao independente~
Coracao que nao comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coracao independente
Eu nao te acompanho mais
Para deixa de bater
Se nao sabes onde vais
Porque teimas em correr
Eu nao te acompanho mais

Amália Rodrigues
Tantas coisas que já li
Outras tantas que vivi
Fazem de mim o que sou
Ai se eu tivesse esquecido
Tudo o que tenho vivido
E o coração decorou
Tudo é questão de memória
É o nosso pensamento
Que a vida nos vai passando
A memória faz história
Do que foi cada momento
Que nós vamos recordando
Isto da alma é segredo
Ninguém sabe desvendar
Os porquês de tudo isto
Sabemos que tarde ou cedo
Iremos a enterrar
E depois disto... desisto.

Amália Rodrigues

19 maio 2007

Mudo de cara ao sabor do vento
Tanto o meu sorriso está aberto
Como os lábios estao cerrados
Iguais a um portão fechado cuja chave se perdeu.
Não consigo mudar
Não consigo controlar
Algo que me acontece co frequência
Da qual não sou vista nem achada
São sim, os que a meu lado estão
Que têm de perceber constantemente
Para que lado o vento está
Se para norte, se para sul
Ou ainda este ou oeste.
É uma indecisão permanente
Que com uma pessoa incoerente
Fazem da mente
Uma não sobrevivente.
Fico assim por razão nenhuma aparente
Mas lá bem no fundo do ser
Descubro a razão
Logo a escondo
E a vontade de fugir com ela
Mostra-se enorme em comparação
Com a articulação
Entre o grande e o pequeno
O fraco e o forte.
E assim ando
Ao sabor do vento, do mar,
Procurando respostas
Para o impossível de responder
Sou assim como tu
Sou assim igual a ti
Da mesma maneira que
O preto é igual ao branco
E um é igual a um milhão
Sou um
Mas gostava de ser um milhão
Sou preto
Mas gostava de ser branco.
Mas afinal de contas
Descubro que posso ser os dois
Esqueci-me que sou como o vento
Tenho quatro direcções
E entre elas posso oscilar
O que significa também
Que posso vacilar
Por entre os caminho
De uma e de outras.
A compreensão é dificil
O propósito dificil é.
Sou como o mar, as ondas
Pois mais uma vez,
Difícil é contá-las e apanhá-las
Queriam ser multiplicidade como eu
Queriam ser mar, ondas,
Vento, como eu.
Como eu só há uma
E mais as outras do meu ser.
O ego pressiona o id
Este brota para fora
Coisas que não me lembro
Pois retomam para dentro
Hoje está sol,
Está um dia lindo
Só por isso não te quis baralhar
Mas como eu sou como o vento
Acabei por baralhada te pôr
HAHA



ps. No fim de sairem estas palavras assim todas de uma vez, não sei bem de onde nem porquê, quando as releio só me dá vontade de rir.

08 fevereiro 2007

Sim... Acho que tenho um sonho...

Desde pequenino. Um sonho ridículo... Sonho... que o mundo se une nas duas diferenças. Que teremos produtos sem a poluição. Amor sem o limiar do ódio. Confiança sem desconfiança. Igualdade na desigualdade... e ainda assim sermos iguais.

O dia utópico em que não conseguiremos deixar de sorrir.

Ou então, porque não, o dia utópico em que tudo deixa de existir... e tudo acaba. Os problemas, a felicidade. Para apenas ser a inexistência. Não seria uma existência serena?

O dia em que não nos fartamos do que gostamos. Que não choramos por quem gostamos. Que não fazemos chorar quem gostamos. Num entendimento profundo. Cheio de compreensão... no único sentimento de ser por simplesmente ser. E ser. Feliz. De preferência. E ainda que vivamos nas imperfeições, vamos saber lidar com elas. Elas serão parte de nós, numa existência vaga de absoluto preenchimento.

O dia vai chegar. Ontem. Hoje! Talvez amanhã? Mas virá. Ainda somos o que fazemos. Somos o queremos. O destino pode ser traçado, mas ainda que traçado serão as nossas opções. E as nossas opções serão a nossa vida. E a minha vida é o de ser completo. Ser feliz com o que me faz feliz. Com quem me faz feliz. Onde sou feliz.

A chuva não é um impedimento. É um desafio.
Os pais não são uns chatos. São quem se preocupa.
Os avós não são conservadores. São fonte de aprendizagem.
Os amigos são isso mesmo. Amigos. Companheiros. Na tragédia e na bonança.
O desporto não é algo cansativo. É fonte de prazer e de saúde.
O trabalho não é obrigação. É feito de prazer.
Como a vida. O prazer está na vida se na vida soubermos ver o seu prazer.

E eu quero ver esse sorriso. Porque sorrisos trazem sorrisos. E eu vim ao mundo para sorrir.

Não vim ao mundo para parar e assistir. Vim para viver e deixar a minha marca. Como todos nós. Nem que seja na solidão do conforto do nosso lar. Aí teremos deixado a marca.

Só peço... um sorriso... à rapariga gira que entra na loja, à rapariga feia que precisa de força. À namorada ao chegar a casa. Dar uma mão ao que cai, estender o braço ao que já se levantou.

Um sonho? O português chega à sua mansão no seu BMW, a empregada está a servir na mesa, a mulher, de saúde, recebe-o com um beijo e um sorriso... Os filhos chegam à mesa e perguntam-lhe como correu o dia... e o típico portuguÊs responderá: mais ou menos.

Eu digo o mais ou menos. .|. Desde a criança sem comida na mesa, por aquela a quem os pais morreram, aquela que recebe uma educação miserável e sem valores, ao que rouba para sobreviver, até ao que não vê o valor do pouco que tem.

Deixem de chegar a casa e ver o youtube, a novela. Questiona-te. Responde! Ajuda. Viaja. Aprende. Ensina!

E chega a velho e sorri. Porque sorriste em novo. Fizeste alguém sorrir em novo. E nem todas as cicatrizes da tua vida te deitarão abaixo, porque nem a velhice te impedirá de continuar a sorrir. Só a morte poderá. E essa, só virá uma vez. Até lá... vamos sorrir. Precisamos disso.

03 fevereiro 2007

Aborto

Fiz um ponto da situação (sem tomar qualquer partido pelo sim ou pelo não) em relação ao referendo que se aproxima aqui. Portanto, agradecia aqueles que aqui passarem que vão lá reflectir, para que o voto seja pensado e não apenas manipulado pelos movimentos existentes.

23 janeiro 2007

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí!
Só vou por onde Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio

21 janeiro 2007

O que diz a Bíblia da amizade

Provérbios 17,17 "um amigo ama em qualquer tempo, é um irmão no dia do perigo"


João 15,15 "Não vos chamo empregados, pois o empregado não sabe o que o patrão faz; chamo-vos amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi a meu Pai"


Filipenses 2, 3-4 "Não façais nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo"


Provérbios 16, 28 "O homem perverso provoca contendas, e quem calunia separa os amigos"


Provérbios 27, 9-10 "Óleo e perfume alegram o coração, e conselho de amigo acalma o ânimo. Não abandones o teu amigo , nem o amigo de teu pai: e, no dia difícil, não vás à casa do teu irmão: vale mais o vizinho perto do que o irmão longe"


Provérbios 27, 6 " A bofetada do amigo é leal, mas o beijo do inimigo é mentiroso"




Tirem as vossas próprias conclusões, eu já tirei as minhas.

20 janeiro 2007

I only ask of God

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the suffering
That the very dried up death doesn't find me
Empty and without having given my everything

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people

People...people, people

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the injustice
That they do not slap my other cheek
After a claw has scratched my whole body

I only ask of God
He won't let me be indifferent to the wars
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people
It is a big monster which treads hard
On the poor innocence of people

People...people...people

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente
Es un monstro grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente

People...people...people


OUTLANDISH

19 janeiro 2007

Poesia

Tanta poesia no blog.
Nenhuma poesia minha?
Não pode.
Venha, venha a rima.

Desajeitado de nascença
Poesia não é com o Je.
Nasce crente, a crença
Escrevo tudo hoje.

Provado que não tenho jeito
mas que dizer mais?
Não sei e não me queixo.
É o poder dos tais.

Por mais que chore
Por mais que grite.
A rima não corre
A rima não quize.

18 janeiro 2007

À distância de um 'clic'
Separados pelo orgulho e cobardia
Pelo medo e abulia.

Não passo de um abúlico
Mas a culpa não é minha
É do mundo que Deus fez.

Impossível de outra maneira
Aborto as palavras e os gestos
Aborto as tentações e os deslizes.

Os sonhos?! Esses não se controlam
Vagueiam pela noite
Sozinhos e sem descanso

Os pensamentos?!
Ficam presos numa folha de papel
E a razão é óbvia
Não passo de um abúlico