XXII
Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno –
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar –
No facto subtilmente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da serra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.
Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência.
Nunca ao defeito de exigir do mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.
Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno –
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar –
No facto subtilmente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da serra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.
Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência.
Nunca ao defeito de exigir do mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.
Alberto Caeiro
2 Comments:
At 9:27 da manhã,
david santos said…
Como é lógico vim cá para ver este seu XXII de José Caeiro que muito admiro.
Contudo, não podia deixar de lhe dizer a forma brilhante como analizou o meu "Pai dos pais".
Tratando-se de uma narrativa com alguma complexidade, misturando poesia prosaica e poesia com alguma rima à mistura, a sua análise por ser tão sintética e tão sólida, deixou-me perplexo.
Muito obrigado. Espero, pois sei não tardar muito, ver o seu profile no nível que o meu amigo tanto merece. Pois é, o "Pai dos pais" tem o seu núcleo no abandono ou no divórcios dos filhos. Ficando, como acontece sempre nestes casos, os netos a sofrer. A paixão é isto mesmo: cega.
Até sempre: david-santos
At 9:36 da manhã,
david santos said…
Queria dizer Alberto Caeiro, mais um dos ismos, como Walt Whitman, Álvaro Campos e Sá Carneiro. Pessoanos, como é claro. desculpe.
Enviar um comentário
<< Home