É isto

"Eu vou aonde me leva o meu pensamento. Talvez chegue à paz do meu coração"

28 outubro 2006

XXII

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno –
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar –
No facto subtilmente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da serra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência.
Nunca ao defeito de exigir do mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.

Alberto Caeiro

2 Comments:

  • At 9:27 da manhã, Blogger david santos said…

    Como é lógico vim cá para ver este seu XXII de José Caeiro que muito admiro.
    Contudo, não podia deixar de lhe dizer a forma brilhante como analizou o meu "Pai dos pais".
    Tratando-se de uma narrativa com alguma complexidade, misturando poesia prosaica e poesia com alguma rima à mistura, a sua análise por ser tão sintética e tão sólida, deixou-me perplexo.
    Muito obrigado. Espero, pois sei não tardar muito, ver o seu profile no nível que o meu amigo tanto merece. Pois é, o "Pai dos pais" tem o seu núcleo no abandono ou no divórcios dos filhos. Ficando, como acontece sempre nestes casos, os netos a sofrer. A paixão é isto mesmo: cega.
    Até sempre: david-santos

     
  • At 9:36 da manhã, Blogger david santos said…

    Queria dizer Alberto Caeiro, mais um dos ismos, como Walt Whitman, Álvaro Campos e Sá Carneiro. Pessoanos, como é claro. desculpe.

     

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