É isto

"Eu vou aonde me leva o meu pensamento. Talvez chegue à paz do meu coração"

29 outubro 2006

Aquela menina

Está a menina à janela de seu quarto
A apreciar o luar
A deliciar-se como a brisa amena a tocar
Na sua suave pele.

Tudo isto para esquecer
O que tanto a atormenta -
Toda aquela dor inexplicável
Que perfura e não pára.
A dor que já não sabe a causa
De tão forte que é.
Se dela, se do outro,
Se de tudo, se de nada.

Quando realmente pensa
Descobre que é a Saudade,
É a saudade que tanto a descompensa.
A saudade de sentir o chão debaixo de si.
Tenta e, desesperadamente, não pensa
Não pensa para não sentir
Mas não consegue
E a dor insiste em perseguir
Até ao infinito sem a largar.

Aquela menina tão doce
Tão cheia de saudade
De si mesma.

Penso e reparo,
Talvez esta menina tenha tudo do meu desagrado
Talvez esta menina seja eu que não paro.

28 outubro 2006

XXII

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno –
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar –
No facto subtilmente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.
Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da serra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência.
Nunca ao defeito de exigir do mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.

Alberto Caeiro

23 outubro 2006

«Pensar é estar doente dos olhos»

Sabes o que é que custa mais?
É essa tua indiferença
É tu conseguires ser assim
É tu te teres transformado
numa pessoa igual às outras.
Bem sei que uma pessoa
é uma pessoa
e nada mais do que uma pessoa
logo não podes ter sido nunca
diferente das pessoas.
Pura ilusão minha.
O mal está em eu pensar,
era tão fácil não pensar.
Aconteceu e pronto.
Aconteceu porque tinha que acontecer
porque tinha de ser.
Para quê pensar na razão?
Para quê imaginar o que seria
se não tivesse sido assim?
Foi e pronto.
Gostava de dizer o que sinto.
Gostava de dizer
para não ficar aqui encravado
mas gostava de dizer
sem pensar no que digo.
Porque se pensar no que digo
já não digo o que tinha para dizer.
Para quê pensar?
Se quero dizer digo.
Como dizia o génio
«Pensar é estar doente dos olhos»

22 outubro 2006

lala

Vem de mansinho. Clica na maçaneta e abre-se. Não sabe o que vê. Está escuro e a transpiração tolda-lhe os olhos. Entra a medo. Não ouve, não vê não sente não cheira. Saboreia? Que é isto? Não, afinal não saboreia. Que vazio é este? Não compreendo este vazio. Este nada. Morri? Estou no conforto do meu lar? No conforto dos braços de quem amo? Estarei a sonhar?

Não é agradável. Não é desagradável. É a simples existência. Não há juízos de valor, opiniões, felicidade ou tristeza. O que é simplesmente é. E isso é ser.

Tenho saudades desse estado. Estou a gostar de aqui estar....

Que ausência de sentimentos, sabores e toques... Tirem-me daqui. A podridão acumula-se e já não sei para onde me virar. Não quero este mundo. Não quero o céu ou o inferno. Quero que tudo acabe. E que até o nada não exista. Nem o conceito de nada. Quero desparecer totalmente e não ter nenhuma consciência.

Tou com frio. Vou tomar banho.

19 outubro 2006

Condenados

Que somos nós?
Seremos sombras?
Sombras que vagueiam.
Umas tentam, frustradas,
Ser mais que sombras.
Outras remetem-se à sua insignificância.
O que será melhor?
Alguém nos guia
Não sabemos para onde.
Tentamos resistir
Mas é mais forte que nós.
Somos sombras negras
Sem sentimentos
Sem opinião
Sem voz.
Sombras translúcidas
Sem face
Sem rosto.
Que prisão esta
Horrível realidade
Sem retorno
Sem solução
Estamos condenados
A ser sombras.

16 outubro 2006

Sinto frio, muito frio, vindo das minhas mais longínquas entranhas. Frio esse que me faz tremer..de frio. Que faz com que as minhas mãos não me deixem escrever claramente. Que faz com que eu não tenha um raciocínio claro e sem paragens. Que faz com que as minhas pernas não parem. E com que dois cobertores não sejam suficientes para me aliviar..deste frio. Gostaria de saber o motivo. Porque fico assim? Será problema, será defeito. Não sei. Ninguém sabe. Só sei que este texto não faz sentido. Talvez um dia o encontre.